José Saramago

 

Não pode mais do que eu a natureza
Nem são de ferro as leis que me governam.
Dentro de mim as artes se conjugam
Que de novos sinais te vão cercar:

Uma pedra fendida num sorriso,
Uma nuvem gritando nas alturas,
Uma sombra que a luz não justifica,
Um sopro quando o vento se afastou.

Outras muitas maravilhas eu faria
E quantas mais me dessem na vontade,
Mas não a servem artes nem sinais:
É de ferro e é lei esta saudade.

 

In Os poemas possíveis, 1966.

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