Fernando Pessoa

 

Se há arte ou ciência para ler a sina
A que em nós o Destino faz de nós,
Dá-me que eu a não saiba e que, indivina,
Me corra a vida vagamente e a sós.

Que quero eu do futuro que não tenho?
Que me pesa hoje, ou alegra, o que serei?
Sei, por lembrar, de que passado venho,
E, onde hoje estou, incertamente sei.

O mais, o que o futuro me dará,
Deixo a quem dê e à forma como o der.
Basta a sombra que esta árvore me dá
E a sensação de nada mais querer.

 

13-9-1934.
In Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993). - 117.

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